PM só entra com armamento pesado em regiões dominadas pelo PCC na zona norte de SP

Incursões na Favela Funerária, Filhos da Terra e Jardim Damasceno são feitas por Força Tática
 
Do R7
 
Regiões da zona norte da cidade de São Paulo têm sido evitadas pela chamadas "viaturas de área" da Polícia Militar. Favela Funerária, Jardim Filhos da Terra e Damasceno Alto possuem ruas onde, segundo policiais e moradores ouvidos pelo R7, as incursões ocorrem apenas ocasionalmente — e com reforço de forças de elite.
 
Os locais seriam dominados pelo PCC (confira aqui como a facção exerce seu poder por meio dos tribunais do crime).
 
Diferentemente das "viaturas de área", ocupadas por dois policiais, as guarnições de elite, como as Forças Táticas e a Rota, são compostas por três ou quatro homens. E possuem armamento pesado, como metralhadoras ou carabinas calibre 12.
 
— O próprio encarregado [superior] diz que é para evitar a favela — afirmou um policial militar que trabalha na região da Funerária, no Parque Novo Mundo.
 
A situação ocorre desde junho do ano passado. Na época, três suspeitos foram mortos em uma operação da Força Tática e da Rota após um sargento ser ferido na região.
 
No Jardim Damasceno, região da Brasilândia, o patrulhamento teria sido reduzido, na parte alta do bairro, mais perto da mata da Cantareira, desde o final de 2012. Entre outubro e novembro daquele ano, a região viveu sob toque de recolher imposto por criminosos.
Na época, o PCC havia iniciado uma série de ataques a policiais. Tanto a Funerária como o Damasceno sofreram operações Saturação (ocupação policial temporária). A tática, para encontrar criminosos que repassaram a ordem da matança, foi usada pela polícia também em outras favelas da cidade dominadas pela facção criminosa.
 
Na Filhos da Terra, região do Jaçanã, a situação é mais antiga. Uma moradora que vive próximo da favela afirmou à reportagem ter recebido visita de um integrante do PCC após reclamar com vizinho do barulho feito por garotos que atuavam em uma boca de fumo.
 
— Ele me deixou o número do celular dele — afirma a moradora.
 
O criminoso, que soube da reclamação, recomendou a ela que não chamasse a polícia. Os problemas poderiam ser comunicados a ele. A moradora afirma que, após a visita, o barulho parou. Na favela, as viaturas comuns também não passam.
 
Os entrevistados pediram para não ser identificados.
 
Como no Rio
O problema foi criticado, na semana passada, pelo vereador Roberval Conte Lopes (PTB), em seu programa matinal na rádio Terra. Capitão reformado e ex-integrante da Rota, o parlamentar afirma que a situação assemelha-se à do Rio de Janeiro.
 
— Tem lugar que o criminoso domina. Na campanha eleitoral, fomos perseguidos por homens em motos no Jardim Damasceno. Tivemos de sair.
 
O vereador afirma que, para resolver o problema, é preciso valorizar o policial.
O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, tem opinião diferente.
 
— Estamos distantes do que ocorre no Rio, onde há cerca de 180 favelas nas mãos de facções ou milícias. Em São Paulo, pode haver locais onde as patrulhas de área não entram. Mas é justamente por isso que a PM tem a estrutura que tem. Nesses locais, usa-se guarnições maiores, como as Forças Táticas.
 
Hóspedes cariocas
Nas grandes favelas da zona sul, também há atuação do PCC, embora o patrulhamento seja mais constante. Considerada ponto estratégico pela proximidade com bairros ricos, a favela de Paraisópolis, no Morumbi, foi conquistada pela facção em 2003.
 
Na época, Ercílio Almeida Filho, o Juiz, filiado à facção, comandou, de dentro do Cadeião de Pinheiros, uma guerra contra Ezequias Cavalcanti, antigo líder comunitário. A disputa começou após um local na favela ter sido usado pelo bando de Juiz como cativeiro, o que teria desagradado a Cavalcanti.
 
Em 2010, segundo informações recebidas pela Polícia Civil, a região foi usada para hospedar líderes do Comando Vermelho, após a invasão do Complexo do Alemão.
 
Moradores dos arredores de outra favela dominada pelo PCC, Heliópolis, afirmam que, ainda hoje, chama a atenção é a presença de desconhecidos com camisas de times do Rio de Janeiro nos bailes funks, que em geral começam próximo a um posto de saúde.
 
— Não dá para ter certeza. Mas parece gente que veio do Rio mesmo — afirma um morador.
 
Resposta
A reportagem perguntou à Secretaria de Estado da Segurança Pública, na última quarta-feira (30), quantas vezes "viaturas de área" passaram por uma rua específica de cada região (rua do Jambo, rua Daniel Cerri e rua do Sol) — os carros da PM têm GPS que guardam o trajeto feito.
O questionamento foi repassado à Polícia Militar, que não respondeu à pergunta.
 
A reportagem também questionou se havia, oficialmente, recomendações para que viaturas que não são de unidades de elite evitassem regiões da cidade. A PM também não respondeu.
Em nota, a PM afirmou o seguinte: "A Polícia Militar esclarece que realiza o patrulhamento ostensivo em todas as regiões e bairros das cidades do Estado de São Paulo. Sem exceções. Não há ruas, bairros ou comunidades em que a PM não realize seu trabalho de proporcionar segurança pública."
 
Fonte e link para esta matéria: http://r7.com/SOj2

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