Ataque ao SUS, lotação e demora

Gestão da Saúde no município é marcada pelas péssimas condições de
atendimento e por abertura ao poder privado

04/10/2012

Eduardo Sales de Lima

da Redação

O que não podia acontecer virou rotina. Demora no agendamento de
consultas e corredores repletos de macas justapostas disputadas por
pacientes portadores de diversos tipos de enfermidades. Eis o retrato
da saúde pública no município mais rico do Brasil.

É assim que se encontra, por exemplo, o Hospital Municipal do Campo
Limpo, zona sul de São Paulo, administrado pela Prefeitura. Além da
falta de leitos e médicos, a UTI pediátrica do Hospital está fechada
há quase dois anos.

De acordo com dados colhidos em 2011 pelo Ministério da Saúde, esse é
o hospital mais lotado da cidade. A taxa de ocupação alcançou 111,5%
no ano passado. Em segundo lugar está o hospital Jardim Iva, também na
zona sul, com 96,9%.

Aliás, a qualidade do atendimento em postos e hospitais públicos é
hoje o maior motivo de insatisfação na capital, acima até mesmo de
outras áreas como educação e limpeza urbana. A saúde é apontada como o
principal problema da rede de serviços municipais por 26% dos
eleitores. Os números são do Datafolha.

Mais especificamente a insatisfação é grande com a demora em relação
ao agendamento e realização de consultas. A população deu uma nota de
3,7 para esse sub-item, segundo pesquisa realizada pelo IBOPE
Inteligência e pela Rede Nossa São Paulo, em junho deste ano.



Ataque ao SUS


Além desses problemas crônicos, a gestão Serra-Kassab aumentou o
repasse dos serviços públicos de saúde ao poder privado. Depois das
Assistência Médica Ambulatorial (AMA's), Unidades Básicas de Saúde,
Programas de Saúde da Família e hospitais, a última investida foi
contra os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), dedicados ao
atendimentos de pacientes com transtornos mentais. Sobretudo as
unidades abertas a partir de 2006 foram entregues às Oss (Organizações
Sociais).

Ocorre que as organizações sociais assinam contrato de concessão com o
poder público e passam a administrar um serviço, recebendo uma verba
pública correspondente, sem que tenham passado por licitação. Somado a
isso, os contratos não são acessíveis aos conselheiros e os critérios
de contratação não são transparentes.

Possuem metas contratuais, o que faz com que o atendimento médico
tenha a qualidade comprometida, uma vez que a preocupação é
quantidade, não a qualidade. Sob essa privatização mais sutil, o
município busca não se responsabilizar pelos serviços públicos
básicos.

"As OSs roubam dinheiro público", já destacava em 2008 o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo
(Sindsaude), Benedito Augusto de Oliveira.



Anti-democrático

No âmbito estadual, na gestão tucana dos anos de 2000 e 2007, os
gastos proporcionais com as OSs cresceram 114,14%, saltando de 9,76%
para 20,90% dos recursos gastos com saúde, segundo dados do Sistema de
Informações Gerenciais da Execução Orçamentária (SIGEO), ligado à
Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.

A experiência com as OSs incentivou José Serra a abrir outra frente de
batalha: minar a participação popular no Sistema Único de Saúde (SUS).

Em dezembro de 2007, o governador José Serra ajuizou uma Ação Direta
de Inconstitucionalidade (Adin), com pedido de liminar no Supremo
Tribunal Federal (STF), para derrubar a lei estadual que criou os
Conselhos Gestores de Saúde no SUS. Os conselhos gestores têm a função
de avaliar e fiscalizar os serviços de saúde prestados à população.

Sindicatos e movimentos de trabalhadores da saúde consideram esse
modelo de gestão das OSs inconstitucional e que fere os princípios
básicos do Sistema Único de Saúde, pois não contrata novos
profissionais qualificados e concursados, precariza as relações de
trabalho, não garante a integralidade e qualidade do atendimento
médico, além de jogar por terra o controle social.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/10810

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