O crack chega à floresta e domina cidades do Amazonas

Sáb, 25 de Agosto de 2012 10:29

O crack se tornou uma tragédia social nas grandes cidades do Sudeste,
Sul e Nordeste. A novidade é que o crack com um poder ainda maior de
destruição nas cidades amazônicas porque aqui a droga é mais barata
ainda. E ao contrário das grandes cidades em que os dependentes dessa
droga habitam casas abandonadas, na Amazônia existe a imensa selva
para os viciados se embrenharem e não serem importunados pela polícia.

Por causa dessa realidade peculiar, os mortos-vivos do crack das
grandes cidades viram literalmente bichos consumindo drogas dias a fio
dentro da floresta. Essa realidade degradante o BLOGdaFLORESTA
conseguiu registrar numa área de floresta entre Brasil e Colômbia e
que separa as cidades de Tabatinga e Letícia, a 900 km de Manaus. Ao
lado de um Lixão no meio da selva onde são despejados detritos das
duas cidades, brasileiros e colombianos consomem a droga sem qualquer
restrição aos que querem chegar perto, como se vigorasse ali um
território livre para o consumo de drogas, coincidentemente bem nos
limites dos territórios dos cartéis do narcotráfico.

É ali, naquele inferno verde em que o odor do crack exala mais forte
do que o do próprio lixo dispensado pelas duas cidades sem tratamento
algum, vidas vão sendo destroçadas e dilaceradas enquanto os governos
dos dois países fazem de conta de que conta de que ele não existe, já
que não está exposto nas ruas de suas cidades.

"Já passei um mês inteiro fumando crack e dormindo poucas horas em
períodos de três em três dias", diz Jairo, 27, um brasileiro que
ganhava a vida como mototaxista até conhecer a droga e abandonar tudo.
Vizinho de Jairo, o estudante João, 19, largou o último ano do ensino
médio e vive hoje exclusivamente para as drogas.

Morando no Lixão, Jairo e João não "precisam" ir às suas casas em
busca de alimentos. Existe bastante resto de comida no Lixão e frutos
nas árvores da floresta. Saem dali só mesmo para conseguir dinheiro e
comprar novamente a droga. Mas o ambiente é sórdido, com muito
mosquito, ratos e animais selvagens, com predominância para os
roedores.


Mas durante à noite, quando saem de cena os catadores de lixo e ficam
apenas os dependentes de crack, há animais maiores circulando pelo
local, como onça, por exemplo. "Elas sempre aparecem para comer restos
de comida. Já me encararam duas vezes e foram embora", diz João, sem
que se possa saber com precisão se as onças realmente aparecem à noite
ou são frutos de delírio. O que há de concreto é que João, como outros
tantos dependentes que se amontoam nas matas da fronteira, abandonaram
a escola. Segundo a Pastoral Ação Juvenil, ligada à Igreja Católica em
Tabatinga, a evasão escolar chega a 40%.

O crack já existe há bastante tempo em Manaus e é conhecido como Oxi.
Segundo o terapeuta e psicanalista clínico Alunney Efer, o crack já é
a principal droga consumida nas cidades amazonenses, sobretudo as do
interior, com base em pessoas em tratamento nas clínicas de
reabilitação química. A única diferença com o crack de outras regiões
é que no Amazonas não se adota o cachimbo para fumá-lo e sim, uma
latinha vazia de cerveja ou refrigerante. "Com a latinha, fica mais
fumaça e economizamos mais o crack", diz P., de 17 anos.

Na capital amazonense, a criminalidade vem sendo impulsionada pelo
trafico de drogas, como atestam todas estatísticas. Numa das áreas
mais belas da cidade, o Amarelinho – mirante de Manaus e portal de
entrada para quem chega de barco foram ocupado por grupos de pessoas
consumindo o crack. E não por acaso, o lugar é chamado exatamente de
Cracolândia. Mesmo nome adotado por moradores em vários municípios do
interior, onde o crack vai minando as sociedades que até então se
mantinham ao largo do mapa do crack no país. (Orlando Farias
(coordenação), Mercedes Guzman, Priscilla Torres, Michael Dantas e
Adalmir Chíxaro)


Fonte: http://www.blogdafloresta.com.br/cidades/12922-o-crack-dominando-as-cidades-do-amazonas

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