Como enganar o povo

Thelman Madeira de Souza

Ao longo da campanha eleitoral, muitas promessas. No governo, Dilma
Rousseff não melhorou o SUS, não universalizou o saneamento, não
investiu na prevenção de enchentes, não aumentou os investimentos
públicos em educação nem modernizou o transporte público das grandes
cidades. Em compensação, seguindo à risca a cartilha neoliberal, deu
prosseguimento aos programinhas compensatórios de FHC e Lula: hoje, o
leque de bolsas vai do Bolsa Família, no lugar da criação de empregos,
ao Bolsa Estiagem, no lugar da construção de adutoras e perfuração de
poços artesianos. É a mitigação dos problemas sociais, com base na
surrada linha reformista, consagrada na Carta aos brasileiros, onde o
PT se compromete com o aperfeiçoamento da injusta ordem social
vigente, em vez de mudá-la. Enquanto isso, a propaganda oficial, com o
apoio da grande mídia, exalta o controle da inflação e o combate à
corrupção.

O Brasil vive, hoje, voltado para o pagamento das dívidas externa e
interna, tendo esta última crescido de forma alarmante. O governo não
governa, se limita a pagar juros em meio a um crescimento econômico
medíocre. O desemprego disparou, e os investimentos em políticas
públicas foram sistematicamente reduzidos, desde a saúde, a educação
até a segurança.
Nestas circunstâncias, se beneficiam os banqueiros, os capitalistas
especuladores, grupos privados compradores de estatais e países ricos
credores. Como não há outro remédio, a grande maioria da população
contabiliza perdas com desemprego, baixos salários, aumento de
impostos e serviços públicos precários. A economia padece de
dependência externa e de baixo crescimento. Tudo isso é o resultado da
submissão do governo Dilma aos cânones da ideologia dominante, no
início do século 21..
Fora os compromissos não cumpridos, nada de novo no front, a não ser a
fúria privatista que acomete a presidente Dilma, permitindo-lhe
realizar uma façanha, que superou o entreguismo de seus antecessores,
com a privatização de aeroportos, de estradas, de hospitais
universitários e da previdência pública, um verdadeiro desmantelamento
da nação. Privatizar é a nova palavra de ordem. Todos os meios são
utilizados para convencer a opinião pública dos benefícios e dos
fundamentos da privatização. Nesse sentido, ganha importância a
falácia neoliberal, cujas teses têm pretensões universais e assumem a
forma de propaganda política mistificadora, a serviço do PT.
O petismo, no poder, jamais abriu mão da linguagem simbólica como
instrumento de conquista política. Serve-se dela de maneira lógica e
obtém vantagens por meio de discursos inflamados e demagógicos,
capazes de atrair a atenção do povo ingênuo, isto é, não detentor de
uma consciência crítica e, por conseguinte, presa fácil da demagogia.
O símbolo, como se sabe, permite trabalhar com os conceitos, de uma
maneira mais fácil. Não é a esmo que os líderes petistas se valem de
metáforas em seus discursos. O emprego de símbolos é extremamente
eficaz para dirigir o povo, incutir-lhe emoções, manobrá-lo e
enganá-lo nos seus interesses vitais, ao franquear o acesso de seus
mecanismos psíquicos à sugestão emocional.
Impondo-se, através de uma propaganda política, bem articulada, a
ideologia neoliberal deixou de ser apenas uma formulação teórica para
encontrar, infelizmente, adesão no espírito do povo, que,
despolitizado, transfere a sua responsabilidade moral e intelectual
para o líder demagogo. Desse modo, ele abre mão de sua capacidade
volitiva e crítica. Esse comportamento explica, plenamente, a
aprovação recorde do desempenho do governo Dilma, não obstante, ao
caminharmos pelas ruas das nossas cidades, nos depararmos com pessoas
de aspecto doentio, malvestidas, maltratadas e sem perspectiva
imediata de uma vida digna. Aqui está o retrato fiel do povo
brasileiro, de um povo iludido por uma retórica falaciosa, que o leva
a uma falsa interpretação da realidade, alienando-o e submetendo-o aos
desígnios de uma elite egoísta. Neste momento, percebemos que o povo
paga um preço alto pela sua consciência ingênua, incapaz, que é, de
perceber quem, realmente, defende os seus interesses.
Thelman Madeira de Souza é médico

Fonte: http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2012/05/04/como-enganar-o-povo/

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