Infância ultrajada – Miséria, abandono e desprezo escondem-se nas matas do Amazonas

By
Com apenas quatro anos de idade, o menino João Carlos, morador da comunidade do Pão, no Vale do Juruá, acorda cedo para o trabalho. Como qualquer pessoa adulta do interior do Amazonas, ele põe o terçado na mão e ao lado da avó corta semente de andiroba, tira a poupa e ainda ajuda a fazer sabão. O trabalho é dividido com sua irmã Glória, 9 anos.
Às margens do Rio Quixito, no Vale do Javari, afluente do Rio Solimões, outras crianças trabalham duro enquanto o pai corta madeira para sustentar a família.
Na comunidade do Roque, no Juruá, Margarida Assunção, 11, também, acorda cedo para ir para a escola. Aliás, muitas vezes mais cedo do que os próprios pais.
O problema é que a menina Margarida é responsável pela sua irmã de seis meses. Até mesmo na hora de assistir aula numa rudimentar escola construída pelos próprios comunitários da comunidade lá está ela com a sua maninha no colo.
Outras milhares delas, que nunca colocaram sequer os pés na entrada de uma escola, acompanham os pais em longas e penosas caminhadas que podem  chegar a 20 quilômetros de floresta, onde permanecerem por vários meses.
Doentes e alimentadas à base de farinha, logo elas são abatidas pelo cansaço e acordam na hora de retornar para o trabalho.
No meio do mato, enquanto pai derruba uma tora de madeira, todas se encontram empenhadas em alguma atividade.
Os menores ficam encarregados pelo abastecimento d' água, pela lenha e pela guarda das crianças. Se estiverem acampados próximos a um igarapé, o problema de abastecimento está resolvido. É só pegar a lata e pronto. Todos podem se servir.
Só que o pai dessas crianças, o cortador de madeira, se desloca todos os dias para novo local de corte. Assim, o igarapé fica mais distante das crianças.
Mas isso é o que menos importa no meio do mato. Alguém precisa voltar ao igarapé para abastecer o pequeno tapiri, construído em cada acantonamento.
Como os adultos estão empenhados na derrubada clandestina de alguma árvore sobram as crianças.  No primeiro mês de corte, a distância já é grande.  E para chegarem ao igarapé precisam percorrer  vários cansativos quilômetros. E não importam os perigos que tenham que enfrentar, como uma onça, uma cobra ou um índio arredio do grupo dos perigosos korubos que circulam nas cercanias do Rio Quixito, no Javari.
Ao longo do Rio Quixito, região das mais inóspitas do Amazonas, embora rica em madeira, animais silvestres, peixe e gás natural, o que pode ser comprovado é o abandono de centenas de crianças, todas muito magras, abdômen avantajado, desnutridas.
As mãos grossas de tanto pegar no terçado são iguais a de seus país, cheias de calo e feridas.
"Elas ajudam a gente até pra fazer comida. A ajuda é pouca, mas são elas que carregam a água, tiram lenha, e cuidam dos irmãos menores", explica Benedito Barreto, 35 anos, que nunca derruba uma árvore se ela não estiver adulta.
Apesar do emprego da mão de obra infantil na região ribeirinha do Amazonas, as crianças não são tratadas como escravas.
Elas ajudam a família desde a idade mais tenra, como o menor João Carlos, 4 anos, e sua irmã Maria da Glória, residentes na comunidade do Pão, no Juruá. Ambos ajudam a avó Clotilde na extração da massa de andiroba.
Com o auxílio de um terçado, João Carlos corta centenas de sementes e com uma colher tira a poupa da andiroba até completar o bolo para a extração do óleo.
Tanto João Carlos quanto sua irmã Maria da Glória não frequentam a escola.
Fonte: http://www.blogdocastelo.com.br/infancia-ultrajada-miseria-abandono-e-desprezo-escondidos-nas-matas-do-amazonas/

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem