O Globo: Alerta no sistema elétrico

Extraído de: PPS - 05 de Outubro de 2012

Apagões em série mostram falta de investimentos, dizem analistas.
Governo vê "coincidência"

Henrique Gomes Batista, Bruno Rosa, Lucianne Carneiro e Gabriela Valente

RIO, BRASÍLIA E FOZ DO IGUAÇU - Cerca de 15 horas após um apagão que
deixou às escuras, por até meia hora, diversos pontos de quatro
regiões do país na noite de anteontem, um blecaute atingiu 70% do
Distrito Federal por pelo menos duas horas ontem. E, há 12 dias, cerca
de 6 milhões de consumidores do Nordeste ficaram sem luz por 23
minutos. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que a
ocorrência desses três blecautes foi "mera coincidência", mas
especialistas alertam que faltam investimentos em manutenção e
prevenção de falhas no sistema de transmissão e distribuição de
energia do país.

O apagão da noite de quarta-feira atingiu ao menos 2,667 milhões de
clientes de 13 estados do país - cerca de 7% do total, segundo
levantamento do GLOBO junto a diferentes distribuidoras. Segundo
Furnas, a causa do apagão foi um curto-circuito em seu transformador
em Foz do Iguaçu, que gerou uma explosão e fogo no local, contido pela
brigada de incêndio da subestação. Segundo o Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS), o incidente causou perda de carga na usina de
Itaipu e a falta de energia afetou parte das regiões Sul, Sudeste,
Centro-Oeste e os estados de Rondônia e Acre.
Já as duas horas sem luz vividas em Brasília ontem, segundo Furnas,
foram provocadas por um problema local. Segundo a Companhia Energética
de Brasília (CEB), um incêndio no cerrado afetou uma linha de
transmissão importante da região, que entrou em curto. Por segurança,
as subestações foram desligadas automaticamente.

Para Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da
USP, falta planejamento e gestão ao setor. Segundo Sauer, a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não cobra os planos de
investimentos das empresas, preocupadas em elevar o lucro:

-Muitas vezes as obras das linhas de transmissão atrasam.

Nivalde de Castro, do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica da
UFRJ alerta para a frequencia de apagões, problema que pode aumentar
em 2013:

- Com a renovação das concessões, as tarifas serão renegociadas
(dentro do pacote do governo para reduzir o preço da energia), e as
empresas não serão mais remuneradas pelo capital investido. Com isso,
podem não ter uma reserva (financeira) necessária para manter a
qualidade.

Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, afirma que sua preocupação
é em "não piorar a situação", já que parte das empresas fala em corte
de pessoal para compensar as menores tarifas:

- O sistema interligado é uma vantagem do Brasil, mas tem gargalos e
problemas técnicos. É preciso comprar melhores equipamentos e
fortalecer o quadro de pessoal. Falta prevenção.

Furnas informou que a "as atividades de manutenção na subestação Foz
do Iguaçu encontram-se rigorosamente em dia" e que está investindo R$
1,5 bilhão para reforçar e modernizar seu sistema de transmissão.
Apesar de informar que o sistema brasileiro é um dos mais eficientes e
seguros, a empresa - que diz ter feito mais de 9 mil melhorias desde
2011 - alega que "em nenhum lugar no mundo um sistema de transmissão
tão extenso e complexo está imune a eventuais ocorrências".

O corte de energia da noite de quarta-feira, segundo o ONS,
correspondeu a 6% do consumo no momento. O diretor-geral do órgão,
Hermes Chipp, negou ontem que faltem investimentos:

- Posso garantir que não há um problema estrutural. Não há problemas
de investimentos. Temos recebido investimentos estrangeiros, de
chineses e espanhóis, tal é o sucesso dos leilões.

Em nota, o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek, afirmou
que "o sistema respondeu de forma adequada" e que isso seria reflexo
dos investimentos quem vem sendo feitos. Em entrevista à rádio CBN,
Samek explicou como ocorreu as interrupções de energia:

- Quando ocorre uma retirada tão rápida de carga, (a interrupção no
fornecimento) é espalhada pelo território nacional, para que nenhuma
região sofra um apagão grande. Com isso, você mantém o sistema de pé e
depois é muito mais fácil de restabelecer.

No Rio, 575 mil foram afetados

No apagão de quarta-feira à noite, 575 mil consumidores do Rio ficaram
no escuro por volta das 21 horas, ou 8,6% dos 6,7 milhões de clientes
no estado. Na área de distribuição da Light, a Zona Oeste do Rio, Nova
Iguaçu, Seropédia e Itaguaí foram alguns dos locais afetados. Na
região da Ampla, ficaram sem luz clientes de Araruama, São Gonçalo,
Niterói, Campos e Petrópolis.

Ontem, às 13 horas, faltou luz na maior parte da capital federal.
Congresso Nacional, Esplanadas do Ministério e até o Supremo Tribunal
Federal ficaram parcialmente no escuro. No total, 560 mil unidades -
lojas, residências e escritórios -ficaram sem energia em Brasília e
nas cidades vizinhas. A luz foi religada aos poucos e, no fim da
tarde, apenas duas cidades do entorno do DF permaneciam sem luz.

Tanto no Palácio do Planalto, como no Palácio da Alvorada, onde a
presidente estava reunida com o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
houve um pico de energia, e os geradores entraram em ação. Nos anexos
do Planalto, foi acionado o esquema de emergência, com iluminação
apenas essencial.

Autor: O Globo

Fonte: http://pps.jusbrasil.com.br/politica/103578889/o-globo-alerta-no-sistema-eletrico

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