Novas denúncias ferem a credibilidade da Ação Penal 470 e da mídia conservadora

16/9/2012 13:42, Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro

Às vésperas do início de mais um capítulo no julgamento do caso
conhecido como 'mensalão', duas denúncias vêm à tona e comprometem
tanto a credibilidade da Ação Penal (AP) 470 quanto da revista semanal
de ultradireita Veja, uma das principais expressões da mídia
conservadora no país. Na principal delas, veiculada na página
Megacidadania na internet, editada por Alexandre César Costa Teixeira,
que integra os quadros do Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro, os pilares da acusação de que teria havido a compra de votos
de parlamentares com dinheiro público são abalados com a divulgação de
"uma carta mentirosa".

Costa Teixeira alinhava documentos que envolvem o ex-vice-presidente
de Varejo do Banco do Brasil, durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, titular da diretoria que controla os cartões de crédito
Ourocard, a BB-Cartões. Antonio Luiz Rios da Silva, "antes de sua
saída do BB", nomeou como diretor de Verejo Fernando Barbosa de
Oliveira, que foi um dos três funcionários do Banco que a Comissão
Parlamentar Mista de Investigação (CPMI) dos Correios recomendou que
fossem indiciados pela Procuradoria Geral da República.

"Mas Antonio Fernando Barros e Silva de Souza (então procurador-geral)
resolveu 'poupá-los', exatamente os nomeados na era FHC, indiciando
somente o petista", afirma.

Nesta carta assinada por Rios da Silva, na qual presta informações
tanto à Polícia Federal quanto aos parlamentares, o teor difere dos
contratos que deveriam abalizar a denúncia:


Prova anexada à denúncia do Megacidadania
"E esta carta mentirosa do 'tucano' ditou, influenciou e/ou moldou
todos os pareceres, perícias e fundamentalmente a própria 'denúncia'
da PGR/MPF, bem como a argumentação do relator Joaquim Barbosa que por
sua vez 'convenceu' o plenário do STF. Ninguém, repetimos,
absolutamente ninguém, nem o PGR/MPF e nem o relator, se deram ao
trabalho de observar a regra básica de uma relação de mercado, o
respeito ao contrato".

Segundo a denúncia de Costa Teixeira, "existia um contrato que
normatizava a relação da Visanet com seus sócios, os diversos bancos,
sendo o maior acionista da Visanet o Bradesco". Antônio Fernando
Barros não foi imediatamente encontrado pela reportagem do Correio do
Brasil, para se pronunciar sobre a recente denúncia em que está
envolvido.

Para o jornalista Miguel Baia Bargas, editor do Blog Limpinho &
Cheiroso – que concentra uma das maiores audiências do país – a
denúncia cita um outro episódio na história do país:

Bargas lembra que, neste domingo, "faz 59 anos que Carlos Lacerta,
baseado numa carta forjada, acusava João Goulart de querer instalar no
Brasil uma república sindicalista. A carta que teria sido escrita pelo
deputado argentino, Antonio Brandi, falava de supostos entendimentos
feitos com o presidente, Juan Perón, envolvendo a implantação de uma
república sindicalista e contrabando de armas da argentina para o
Brasil. Com a repercussão da noticia na grande mídia, deputados da
oposição pediram a abertura de uma CPI para apurar o caso. Só muitos
meses depois ficou comprovado que o documento era falso".

"Mas ai o estrago já estava feito. Este tipo de pratica política de
produzir denúncias com provas falsas ou declaratórias voltou a ser
utilizada a cada nova eleição. Isso tem provocando o descrédito na
política e na democracia brasileira, abrindo espaço para políticos
aventureiros totalmente descolados dos partidos e de compromissos
políticos. Como afirma Pierre Norra, os empresários da comunicação no
Brasil sabem que multiplicar o novo, fabricar o acontecimento,
degradar a informação, são seguramente os meios de defender seus
interesses", acrescentou.

Relações complicadas


Dilma estaria arrependida de marcar o encontro com o dono da Veja
A outra denúncia que circulou neste domingo é ainda mais cáustica para
o tecido político nacional e enterra os últimos traços de
credibilidade do principal título de propriedade da Editora Abril S/A.
A capa da última edição de Veja, que circulou nas bancas, neste fim de
semana, traz o título: Os segredos de Valério. A reportagem contém uma
declaração atribuída ao empresário Marcos Valério, imediatamente
desmentida pelo advogado do réu na AP 470, sobre o envolvimento do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no episódio do 'mensalão':

"Desde 2005 Marcos Valério não dá entrevista e não deu nenhuma
entrevista para a revista Veja. Ele nega o teor das declarações
atribuídas a ele", afirmou o advogado Marcos Leonardo. Sem uma só
entrevista gravada ou a citação de qualquer nome, a não ser o da
personagem que desmente todas as informações da revista, Veja se
baseia em "revelações de parentes, amigos e associados" para colocar
sob a responsabilidade do empresário a afirmação de que "Lula era o
chefe". A frase, diz o texto assinado pelo jornalista Rodrigo Rangel,
teria sido repetida por Valério "com mais frequência e amargura agora
que já foi condenado pelo (Supremo Tribunal Federal) STF".


Capa da última edição de Veja, sobre o 'mensalão'
A reportagem, conforme anuncia a revista, "tem cinco capítulos". O
primeiro deles, publicado nesta semana, já foi suficiente para que o
Planalto mudasse o tom com a revista, frequentada pela presidenta
Dilma Rousseff, que concedeu uma entrevista exclusiva para a
publicação que integra o "Grupo dos 10″ veículos de comunicação que
mais recebem recursos públicos do Palácio do Planalto.

"O constrangimento foi geral, a ponto de o presidente do Grupo Abril,
Roberto Civita, no melhor estilo dos jogadores de futebol que reprovam
o técnico ao serem preteridos, sair do salão de eventos do hotel
Unique, em São Paulo, na sexta-feira 15, meneando a cabeça. Pela
manhã, por volta das 10h00, sob a elegante justificativa de não ter um
membro de sua família para acompanhá-la, a presidente Dilma Rousseff
cancelou compromisso pré-agendado com Civita para o almoço. Pouco mais
tarde, durante o evento Maiores e Melhores, da revista Exame do mesmo
Civita, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, levatou-se sem prévio
aviso da mesa de debates da qual participava, ao lado do prêmio Nobel
de Economia Paul Krugman e, outra vez, do próprio Civita, para se
retirar em definitivo do recinto, diante de dezenas de empresários",
pontuou a página de notícias na internet 247, neste domingo.

"Os dois gestos foram imediatamente compreendidos como um protesto do
governo pela matéria de capa da revista Veja Os Segredos de Valério,
que iria circular no dia seguinte", afirma o site. "A informação do
conteúdo em tudo agressivo contra o ex-presidente Lula e o PT circulou
para o governo, que, com a batida em retirada, deu o tom de como
serão, doravante, as relações institucionais com o Grupo Abril de
Civita", presumiu.

Fonte: http://correiodobrasil.com.br/novas-denuncias-ferem-a-credibilidade-da-acao-penal-470-e-da-midia-conservadora/516059/

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem