Da Má Gestão à Privatização

Sobre o/a autor/a »

João Ricardo Vasconcelos
Politólogo, autor do blogue Activismo de Sofá
www.activismodesofa.net

Rapidamente se tenta passar para a opinião pública que a privatização
é a melhor forma de por termo ao regabofe que tomou conta da empresa
em questão

opiniao | 31 Agosto, 2012 - 00:11 | Por João Ricardo Vasconcelos
Lead:
Rapidamente se tenta passar para a opinião pública que a privatização
é a melhor forma de por termo ao regabofe que tomou conta da empresa
em questão


A poucos dias da avaliação da troika, eis que surgiu do nada o velho
tema da privatização da RTP. É um daqueles temas que a direita
ressuscita de tempos a tempos, com certeza por contas más resolvidas
no passado. Mas é no debate que em seu torno se gera que maiores
vicissitudes conseguem ser encontradas. Neste sentido, como acaba por
acontecer de cada vez que se discute a privatização de uma determinada
empresa pública, lado a lado com o argumento do fardo que a mesma
representa para o erário público, surgem sempre inúmeros exemplos de
má gestão.

Ora se falam nas regalias despropositadas dos trabalhadores da dita
empresa, ora das mordomias dos seus administradores, ora dos contratos
e compromissos ruinosos em que a mesma se encontra envolvida. Ou seja,
rapidamente se tenta passar para a opinião pública que a privatização
é a melhor forma de por termo ao regabofe que tomou conta da empresa
em questão. Com a privatização, os contribuintes ver-se-ão assim
livres de contribuir para uma montanha de privilégios e más práticas
que ultrajam qualquer português honesto. E embora sendo relativamente
evidente a demagogia barata que envolve este tipo de mensagem, acaba
por não ser fácil conter as percepções que daí decorrem na opinião
pública.

Rapidamente se esquece que as forças políticas que agora acusam tais
empresas de má gestão são as mesmas que (adivinhem!?) geriram estas
mesmas empresas nos últimos anos. Ou seja, um dos mais batidos
paradoxos democráticos continua à vista de todos: o mesmo centrão que
defende que o Estado gasta mal, que desperdiça o dinheiro de todos e
que é um fardo para a economia é o mesmo centrão que governa esse
mesmo Estado.

Mas é nestes momentos em que a demagogia sobre o aparelho público
atinge o seu apogeu que a esquerda também tem de ser capaz de
reconhecer que pode e deve ser muito mais exigente nestes domínios Na
sua ânsia de salvaguardar o setor público das críticas de má gestão
que normalmente antecedem a sua diminuição ou privatização, a esquerda
acaba por não denunciar como devia as más práticas que por todo o lado
sucedem. Consegue mesmo, com esta sua atitude, a terrível proeza de
beneficiar as administrações e os governantes que trouxeram o setor
público ao estado que todos conhecemos.

A esquerda tem de ser a primeira a apontar as mordomias dos
administradores, os contratos ruinosos, os maus investimentos e até
algumas regalias desmesuradas dos trabalhadores. Não só porque lhe é
moralmente exigido, mas também porque apenas assim conseguirá ter a
sua posição fortalecida nestes momentos de ataque cerrado ao setor
público.

Fonte: http://www.esquerda.net/opiniao/da-m%C3%A1-gest%C3%A3o-%C3%A0-privatiza%C3%A7%C3%A3o/24426

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem