PT e PMDB resistem a acordo para blindar governadores na CPI

Por Jeferson Ribeiro

BRASÍLIA, 7 Mai (Reuters) - PT e PMDB dificilmente aceitarão um acordo
para blindar os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do
Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e de Goiás, Marconi Perillo, na CPI
do Cachoeira. Contudo, os dois maiores partidos da base aliada do
governo têm motivos diferentes para rejeitar o acerto que é comentado
nos corredores do Congresso.

O PMDB não vê motivos para convocar Cabral à Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI), já que ele não foi citado, até agora, nas
investigações das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. O
elo de Cabral com as investigações está na sua amizade com o
ex-presidente da Delta Construções, Fernando Cavendish. A construtora
está no centro das apurações da comissão.

Já o PT acredita que um acordo para blindar ou amenizar os depoimentos
dos governadores, convocando-os para uma sessão conjunta da CPI mista,
só interessa ao PSDB, porque a PF diz em seus relatórios que Perillo
recebeu dinheiro de Cachoeira e ainda nomeou uma pessoa da confiança
do empresário para comandar o Detran de Goiás.

O PT acredita ainda que o elo estabelecido entre Queiroz e o
empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde
fevereiro acusado de comandar uma rede de jogos ilegais, é fraco e não
atingiria diretamente o governador, apenas poderia incriminar alguns
assessores próximos.

"Não existe hipótese de acordo. Cabral nunca foi pago, por Cachoeira.
O Perillo está envolvido até o pescoço. E o Agnelo perdeu na Justiça
quando pediu para a Delta sair do contrato que tinha no DF. Isso só
interessa à oposição", disse à Reuters o deputado Cândido Vaccarezza
(PT-SP), que integra a CPI.

O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB)6, afirmou que
ainda não chegou o momento de convocar os governadores, mas descartou
a possibilidade aprovar requerimentos em bloco para os depoimentos dos
governantes, como defende a oposição.

"Não existe essa história de convocar em bloco, porque são fatos
jurídicos diferentes. Quem defende convocação em bloco, defende
politicamente", disse o senador, acrescentando que não está agindo em
defesa do governador do PMDB por ser do mesmo partido.

É provável que a CPI analise os requerimentos de convocação dos
governadores na próxima semana, mas dificilmente nesta fase da
investigação parlamentar a oposição conseguirá reunir votos
suficientes para convocar os governadores do PT e do PMDB, já que a
maioria dos integrantes da CPI pertence à base aliada da presidente
Dilma Rousseff.

O argumento usado pelos tucanos é que a comissão não pode investigar
apenas um governador e excluir os outros por critérios partidários.

"Qual o fato determinado da CPI? A relação do senhor Carlos Augusto
com o Estado brasileiro. A partir daí se um governante está no fato
determinado, aprofunda-se, vê e daí ele passa a ser motivo ou não de
uma convocação", argumentou o presidente da CPI.

PRESSAO

A pressão para convocação dos governadores, no entanto, deve aumentar
nos próximos dias. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
disse nesta segunda-feira que pedirá abertura de inquérito no Superior
Tribunal de Justiça (STJ) para investigar Queiroz e Perillo no âmbito
das operações Vegas e Monte Carlo.

E no caso de Cabral, Gurgel disse que não há "iniciativa no sentido de
instalação de inquérito", mas pediu informações preliminares à
Controladoria-Geral da União (CGU), ao Tribunal de Contas da União
(TCU) e à Procuradoria da República do Rio de Janeiro "a respeito de
contratos que envolvem a construtora Delta".

Nesta segunda, a PGR também encaminhou ao STJ parecer pela manutenção
da prisão preventiva de Carlinhos Cachoeira.

Cabral tem conversado com a cúpula do PMDB para prestar explicações
antecipadas sobre sua relação com a Delta e pedido "solidariedade" aos
correlegionários.

O presidente da CPI não quis comentar se essa ação do procurador pode
criar um clima adicional para convocação imediata dos governadores.
Disse, porém, que mudanças no plano de trabalho aprovado na semana
passada podem ocorrer se houver acordo entre os líderes partidários.

DELTA: PENTE-FINO

Apesar das investigações da CPI estarem concentradas inicialmente nas
operações da construrora Delta no Centro-Oeste, onde o grupo de
Cachoeira operava e mantinha estreita relação com a empresa, o governo
trabalha com a hipótese de que os parlamentares estendam as apurações
para os contratos assinados pela empresa no âmbito federal.

A CGU, por exemplo, abriu processo administrativo para analisar
possíveis atos ilícitos da empreiteira em contratos firmados com o
governo federal, especialmente os assinados com o Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Além disso, o governo está fazendo um pente-fino nos contratos para
encontrar saídas jurídicas para substituir a empresa quando
necessário, segundo disse à Reuters uma fonte do governo sob condição
de anonimato.

Uma outra fonte do Executivo, que também pediu para não ter seu nome
revelado, afirmou que a determinação dada pela presidente Dilma
Rousseff é que não haja tratamento diferenciado para a Delta, nem nos
contratos assinados com o governo e nem no âmbito político da CPI.

Por enquanto, porém, a CPI vai concentrar suas atividades na análise
da atuação de Cachoeira e, nesta terça-feira, vai ouvir a portas
fechadas o delegado da Polícia Federal Alexandre Marques de Souza,
responsável pela investigação da operação Vegas.

Fonte: http://pop-news.jusbrasil.com.br/politica/8696279/pt-e-pmdb-resistem-a-acordo-para-blindar-governadores-na-cpi

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem