O julgamento do mensalão

José Dirceu quer ser julgado no STF e resgatar legado político

20/4/2012 22:33, Por Redação - de São Paulo


Dirceu vê agora a sua chance de ser inocentado no Supremo e retomar
seus direitos políticos
Ao passo que se aproxima o julgamento no Supremo Tribunal Federal do
processo apelidado pela mídia conservadora de "mensalão", o assunto
começa a surgir com força nas redes sociais e, nesta sexta-feira, o
ator e diretor de Teatro José de Abreu divulgou, em seu microblog, a
recente entrevista do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu a um
programa de TV, no qual ele pede para ser julgado. Sob a hashtag
#julgamentojustoja, Abreu lembra as declarações de Dirceu quanto a ter
sido atirado às feras, em questão de apenas alguns dias, e rotulado de
"chefe de quadrilha".

– Eu tenho uma biografia. Não tenho folha corrida, como muitos que me
acusaram. Nunca fui investigado na minha vida. Nunca fui acusado de
nada. Ninguém pode virar bandido do dia para a noite. Aquilo foi uma
infâmia que fizeram contra mim para atingir o presidente, o governo, o
PT. Mas eu nunca me sinti abandonado – disse José Dirceu, em uma
entrevista ao programa da jornalista Marília Gabriela, que circula
pelas redes sociais.

O militante de esquerda exilado, depois eleito para a Câmara dos
Deputados e ter o mandato cassado, não esconde o impacto de um dia
acordar como um dos homens fortes da República e anoitecer como o
chefe de uma quadrilha especializada em tráfico de influência e
propina dentro do Congresso e em ministérios do então governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

– É evidente que (foi difícil) enfrentar, do dia para a noite, (o fato
de ser transformado) em chefe de quadrilha e corrupto, porque a
denúncia depois aceita pelo Supremo (Tribunal Federal, STF) diz isso.
Sem nenhuma prova – garante, ao lembrar que, ouvidas todas as
testemunhas, "nenhuma prova foi oferecida".

Segundo Dirceu, ele foi absolvido "em todos os inquéritos e em todas as CPIs":

– Já respondi a processos em Brasília e fui absolvido na primeira e na
segunda instâncias, sofri uma devassa da Receita ao longo de dois anos
e recebi um atestado de honestidade. Então, eu quero ser julgado –
reafirmou.

Confusão proposital

Diante das denúncias de participação do senador Demóstenes Torres nos
negócios ilícitos do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, nos quais também estariam envolvidos o
empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, os
governadores de Goiás, Marconi Perillo; de Brasília, Agnelo Queiróz, e
do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, entre outros deputados e
empresários, Dirceu foi lembrado como um dos assessores contratados
pela Delta Construções.

A empresa ocupa lugar de destaque na indústria da Construção Civil e,
à certa altura, fez um contrato de assessoria com o escritório do
ex-deputado petista, no valor de R$ 20 mil. O negócio, porém, segundo
Cavendish, não prosperou:

– Um diretor nosso conheceu um assessor do José Dirceu. E falou pra
mim: 'Quer conhecer o José Dirceu?' Só que fizeram um contrato de R$
20 mil. Até hoje não consegui entender. Mas o imbecil lá resolveu
fazer isso. Tanto é que, quando soube, eu disse: 'Pode parar essa p!'.
Eu estive com José Dirceu uma vez só. Ele falou sobre a Índia, outros
países. E foram dizer que a Delta é o que é por causa dele. Isso é
esdrúxulo – pontuou o empresário, em entrevista a um jornal
paulistano.

A tentativa de ligar o nome de Dirceu ao recente escândalo que gerou a
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, como
explicou em um artigo o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos
Coimbra, trata-se de uma manobra desesperada de setores da direita e
de conservadores na tentativa de despistar os acontecimentos que, um
dia após o outro, têm-se mostrados mais graves.

"Era preciso embaralhar as culpas do Demóstenes oposicionista com
aquelas de políticos governistas. E era óbvio com quais: os acusados
pelo "mensalão". Eles e Demóstenes tinham de ser igualados. Se esse
diversionismo fosse bem-sucedido, o escândalo terminaria por ser
positivo: aumentaria as pressões para que o STF julgasse logo o caso",
afirmou, em artigo publicado aqui, no Correio do Brasil.

Restabelecido politicamente

Alheio à manobra dos adversários, Dirceu tratou de reforçar sua
posição no PT e junto aos aliados na base de sustentação ao governo da
presidenta Dilma Rousseff. Uma vez ultrapassada a última barreira do
processo, possivelmente ainda este ano, caso o STF resolva julgar o
caso do "mensalão", Dirceu estará restabelecido politicamente para
buscar de volta seus direitos políticos, cassados no Plenário da
Câmara. Em uma recente aparição pública, ainda que rara, em um evento
partidário, Dirceu foi recebido de pé por cerca de 600 militantes,
além de dirigentes do partido, na sede de um sindicato no centro da
capital paulista.

– Meu único objetivo é trabalhar para me defender no Supremo Tribunal
Federal. Quero ser julgado o mais rápido possível. Não faço planos pra
depois – afirmou.

Dirceu também colocou por terra o argumento usado por seus adversário
acerca de um possível desmantelamento da ação no Supremo, com a
prescrição de algumas penas previstas no processo, em agosto deste
ano. Segundo afirmou, "está havendo confusão".

– Ao que me consta, no dia 26 de agosto vai prescrever, mas é o caso
concreto. É tudo o que eu não quero. Não quero que prescreva nenhuma
pena daquilo de que eu fui acusado. Eu espero que o julgamento seja
antes de 26 de agosto. Eu espero que o Supremo julgue antes disso, mas
prescreve a pena concreta, não quer dizer que não vá ser julgado. Eu,
como cidadão e como réu, quero ser julgado antes – afirmou.

Fonte: http://correiodobrasil.com.br/jose-dirceu-quer-ser-julgado-no-stf-e-resgatar-legado-politico/438432/

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